sábado, 18 de outubro de 2014

sábado, 4 de outubro de 2014

RUBEM ALVES, PENSADOR * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

RUBEM ALVES, PENSADOR
http://rubemalves.com.br/site/
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A parábola dos talentos – Rubem Alves


Havia um homem muito rico, possuidor de vastas propriedades, que era apaixonado por jardins. Os jardins ocupavam o seu pensamento o tempo todo e ele repetia sem cessar: O mundo inteiro ainda deverá transformar-se num jardim. O mundo inteiro deverá ser belo, perfumado e pacífico. O mundo inteiro ainda se transformará num lugar de felicidade.
As suas terras eram uma sucessão sem fim de jardins, jardins japoneses, ingleses, italianos, jardins de ervas, franceses. Dava muito trabalho cuidar de todos os jardins. Mas valia a pena pela alegria. O verde das folhas, o colorido das flores, as variadas simetrias das plantas, os pássaros, as borboletas, os insectos, as fontes, as frutas, o perfume… Sozinho ele não daria conta Por isso anunciou que precisava de jardineiros. Muitos se apresentaram e foram empregados.
Aconteceu que ele precisou de fazer uma longa viagem. Iria a uma terra longínqua comprar mais terras para plantar mais jardins. Assim, chamou três dos jardineiros que contratara, e disse-lhes: Vou viajar. Ficarei muito tempo longe. E quero que vocês cuidem de três dos meus jardins. Os outros, já providenciei quem cuide deles. A você, Paulo, eu entrego o cuidado do jardim japonês. Cuide bem das cerejeiras, veja que as carpas estejam sempre bem alimentadas… A você, Hermógenes, entrego o cuidado do jardim inglês, com toda a sua exuberância de flores espalhadas pelas rochas… E a você, Boanerges, entrego o cuidado do jardim mineiro, com romãs, hortelãs e jasmins.  
Complete aqui...
http://contadoresdestorias.wordpress.com/2012/02/19/o-prazer-da-leitura-rubem-alves/ 
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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

ROSÁRIO FUSCO, MEUS AMIGOS! * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

ROSÁRIO FUSCO, MEUS MENINOS! Antonio Cabral Filho - Rj


 

1 - Rosário Fusco: quem é...http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=8769


2 - Opinião:

Rosário Fusco, “o gigante voraz”


Escritor mineiro admirado por Mário e Oswaldo de Andrade hoje é quase desconhecido.

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Rosário Fusco
Ronaldo Werneck | Hoje em Dia
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rosário fusco o que foi físsil rosário fósforo
foi-se de fato lume fora do fusco do rastro do risco
que já foi sim e não porque nunca foi nunca foi-se de fato
rito rosto rateio ritmo rumo ruminação relíquia
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“Morreu de talento. É a urna de cinzas detergentes do modernismo” — ele declarava sobre Oswald de Andrade, na entrevista que eu e Joaquim Branco fizemos para o Pasquim, em 1976. Parecia falar de si mesmo, de seu talento, que lembrava o de Oswald. Há 35 anos, no dia 17 de agosto de 1977, morria em Cataguases o escritor Rosário Fusco. Nascido em 19 de julho de 1910 em São Geraldo (MG), Fusco veio com um mês para a cidade onde se tornaria, ainda adolescente, um dos fundadores e enfant terrible da revista Verde. Lançada em 1927, a Verde foi um dos principais braços do movimento modernista em Minas Gerais. Após longo périplo “oropa-frança-bahia” (Rio /Paris/Nova Friburgo), Rosário Fusco voltou em 1968 para Cataguases, onde ficou até o final da vida. Em 2010, o seu centenário de nascimento passou praticamente esquecido. “Lá se foi o velho Rosário Fusco” – escrevia o cronista José Carlos Oliveira no Jornal do Brasil de 21 de agosto de 1977, quatro dias após a morte do romancista: “um gigante voraz, andarilho infatigável que viveu (vivenciou, se preferirem) a aventura antropofágica proposta pelos modernistas. Cosmopolita, para onde quer que fosse levava um coração provinciano. Teria que terminar em Cataguases, misteriosa cidade com vocação de radioamador – dentro das casas, nos bares, na praça, na modorra da roça é apenas uma prevenção de forasteiro: na verdade, Cataguases está em febril contato com o mundo, é pioneira em cinema, em literatura, em arquitetura”.
Cataguases deve muito a Rosário Fusco, verdadeiro motor da revista Verde, um vulcão que escrevia, ilustrava, diagramava, mandava (e recebia) cartas pra todo mundo – principalmente para o modernista Mário de Andrade. Com um mês de idade e órfão de pai, Rosário Fusco de Souza Guerra chega a Cataguases com a mãe, lavadeira. Duro início de vida: aprendiz de latoeiro, servente de pedreiro, pintor de tabuletas, prático de farmácia, professor de desenho, bedel no Ginásio.
Aos 15 anos, já colaborava no Mercúrio, jornal dirigido por Guilhermino César, e logo em dois outros jornaizinhos, Boina e Jazz Band. Com José Spindola Santos, edita Itinerário — e juntos fundam a livraria-editora Spindola & Fusco. Aos 17, é um dos criadores da Verde e, aos 18, publica “Poemas Cronológicos”, com Enrique de Resende e Ascânio Lopes (1928). Em 1932, muda-se para o Rio de Janeiro, onde forma-se em Direito em 1937.

Fusco só escrevia à mão com uma velha e rombuda Parker 51

Romancista, funcionário federal, dramaturgo, poeta, jornalista, publicitário, radialista, crítico literário, ensaísta, secretário da Universidade do Distrito Federal e procurador do Estado do Rio de Janeiro. Muitos cargos para um homem só, mesmo um muito enorme e da melhor qualidade como Rosário Fusco. Melhor dizer, simplesmente, profissão: escritor. Mesmo porque ele foi o primeiro escritorbrasileiro a ser reconhecido como tal pelo antigo INPS. Em meados dos anos 1960, ele volta para Cataguases. “Onde anda Rosário Fusco?” – (se) perguntava, em 1996, um poeta da terra. Por acaso, eu mesmo. “Onde andam o vozeirão, a velha e rombuda Parker 51, anotando trechos ou gravando situações que irão compor um próximo romance?” Fusco só escrevia à mão: “assim me sinto mais ligado ao que estou escrevendo. Além de péssimo datilógrafo, a máquina me distancia das coisas, da densidade dos corpos”. Onde andam o imponderável bigode mexicano, a larga risada, o humor, a lágrima, o uísque, o cigarro, a panela com água fazendo de cinzeiro (magnífica invenção!), a lustradíssima bota do menino Rosário – aquela que ficava sobre a mesa do seu escritório na casa do bairro da Granjaria? Onde andam aquela panela, aquela bota? Como a bota de Van Gogh, uma de suas admirações “do rol dos confessáveis (as outras; Machado de Assis, Dostoievski, Beethoven). Mas que coisa é Rosário Fusco, que coisa entre coisas, entre todas as coisas é R.F.”?

a.s.a. – associação dos solitários anônimosObras

De 1928 a 1969 – quando a Editora Mondadori lançou na Itália seu romance L’Agressore, editado em 1943, no Rio, pela José Olympio, Fusco publica inúmeros títulos em vários gêneros: Fruta de Conde, poesia, em 1929; Amiel, ensaio, 1940; O Livro de João, 1944; Carta à Noiva, 1954; O Dia do Juízo, 1961, romances; Vida Literária, crítica, 1940, Introdução à Experiência Estética, ensaio, 1949; Anel de Saturno e O Viúvo, de 1949, teatro; e Auto da Noiva, farsa, 1961. A Ateliê Editorial publicou seu romance póstumo a.s.a.: associação dos solitários anônimos.
Em 1976, sai nova edição de O Agressor, pela a Editora Francisco Alves. O mesmo romance é também republicado cm 2000, pela Bluhum. Em 2003, a Ateliê Editorial lança um romance inédito do escritor, a.s.a. – associação dos solitários anônimos. Existem ainda outros inéditos, comoVachachuvamor, romance; Um Jaburu na Tour Eiffel, livro de viagem; eCreme dc Pérolas, poemas eróticos.

Vida e Morte

Que coisa é Rosário Fusco? Um escritor e basicamente um romancista, com toda a sua danação e glória: “Tenho perdido ônibus, bondes, empregos, amizades. Nunca perdi a vontade de escrever… Não sei, em verdade, porque escrevo, se todos escrevem, se há tantas coisas na vida menos melancólicas e mais eficientes.., Vivo – quem não vive? — sob o signo do imprevisto, que manda chuva e manda guerra, protestos de títulos e cobradores à porta, falta de manteiga e falta de afeição, aumento do preço do cinema ou dores de cabeça, irremovíveis. Vivo num mundo onde poucos penetram e, se penetram, faço tudo para não deixá-los sair… Escrever é um mal, é um bem, é um erro? É tudo isso e não é nada disso: é uma fatalidade, para encurtar palavras”.
Em sua crônica quando da morte do escritor, Carlinhos Oliveira brinda à vida e faz de suas palavras a melhor das elegias para Rosário Fusco: “Curiosamente, não recebo com tristeza a notícia de sua morte. Ele viveu intensamente, não desprezou nada, comeu e bebeu e estudou a vida com furor implacável. Não provou do veneno dos românticos, mergulhou de cabeça na festa, e cada minuto de sua vida foi sem duvida uma vitória contra a insidiosa inimiga”. Sim, Rosário Fusco viveu e morreu de talento…
Fontes:1 - INÉDITOS Revista Literárias nº 2 - julho-agosto, 1976;
2 - http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=8769  ; 
3 - http://blog.atelie.com.br/2012/10/rosario-fusco-o-gigante-voraz/#.U2Pu6fldW5M   
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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

ANTOLOGISTA MINEIRO WAGNER RIBEIRO * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

ANTOLOGIA  LUSO
BRASILEIRA
WAGNER RIBEIRO,
FTD 1964
*
Wagner Ribeiro é mineiro de Patos de Minas, nascido em 1913, foi professor, irmão marista e profícuo antologista, além de poeta. Numa rápida busca virtual, constatei que a lista de livros de sua autoria é grande, embora não tenha encontrado documentação sobre ele, sequer no Acervo de Escritores Mineiros da UFMG. 
Este livro acima me acompanha há muitos anos, mais devido às notas sobre o vocabulário dos autores estudados nele, o que de certa forma ajuda-me no enriquecimento vocabular ao escrever.
Vou transcrever a seguir o único texto de sua autoria incluído neste livro, com o devido respeito à sua ortografia....
DEFUNTO FUGIDO

No dia em que morreu o coronel Monteiro,
Na fazenda do Ipê, pelas quatro da tarde,
ouvimos um estouro!... Espalhou-se um mau cheiro
de enxôfre em toda a casa!... E com bulhento alarde,
anuns pretos faziam algazarra. Que medo!
Era de arripiar os cabelos da gente...

De batuque infernal, que grotesco arremêdo!
Essa dança macabra, horrenda, felizmente 
pouco tempo durou. Todo o mundo inda jura:
- "Do infeliz fazendeiro o cadáver sumiu.
Não havendo remédio, em tanta conjuntura,
a não ser... a família, (ora, onde é que se viu!)
Mandar amortalhar um palanque de cedro,
que recebeu, na igreja, as orações litúrgicas
em lugar do defunto!..." - assim, disse o ti' Pedro.


Evitaram-se, então, versões estapafúrdias:
Diziam que "o Monteiro havia feito trato
com o demônio"! Ora vejam! Eu cá, por mim, não creio
em almas do outro mundo. Agora, escutem um fato,
um caso verdadeiro, embora, de permeio,
encerre algum floreio - a estória é impressionante!

Tinha que acontecer comigo!
                                                                   De uma feita,
(Moro em Campo Florido), houve um sarau dançante
em Pirajuba. Não, jamais hei de olvidar,
jamais hei e esquecer! Uma festa legal!

Quando enfim terminou, eu pensei em voltar.
Fui buscar meu cavalo e montei.
                                                           - Pessoal, adeus!
                                   Escureceu. Teremos tempestade,
Pensei com meus botões. Negra a noite ficara.

Que cavalo valente! O alazão na verdade
é o melhor animal! Eis que o matungo pára.

- Alazão, Alazão! Deixa deste tremor!
Estás passarinhando? (E esta chuva não cessa. 
Eu nutria também meu receio e temor)
O' meu pingo, olha lá não me aprontes mais essa!
Ressabiado, bufou e voltou-se, empinando.
Forçoso era ceder ao querer do animal.

Eis que, à luz de um corisco, enxerguei, embargando
a passagem, um vulto...
                                       - É um ébrio? Vai mal!
Ei! Saia do caminho, aí, seu cachaceiro!

Não deu resposta alguma. Empunhei a garrucha.
Ia até fazer fogo. Apeei. Quis primeiro
me benzer: - Deus me ajude! Estou com medo! Puxa!
Não seria um defunto, a tal hora, na estrada,
em fraldas de camisa, encostado num fardo?

- Um bêbedo, pensei de novo; e assim, não tardo
a retomar a estrada, estando mais tranquilo:
É que vinha parando a chuva e que os coriscos
haviam já cessado. entretanto, eis que "aquilo"
não mais me preocupava e nem causava riscos...

Duas léguas além, avistei, num instante, 
um rancho, com bom fogo aceso, em derredor
de um velho caldeirão com feijão fumegante,
homens a discutir, do braseiro ao calor.
Bem. Ao me aproximar, o que enxerguei, parado
a pequena distância, era um carro de bois.

Girava a discussão, em tom acalorado
sobre um assunto tal, que, somente depois,
me foi dado entender.
                                      Logo que eles me viram,
disseram: - "Ó seu moço, encontrou um defunto
por aí, nesta estrada? - Ah! Meus olhos se abriram:
Pois então, era esse  o debatido assunto?!"

- Sim, talvez, respondi: logo depois da balsa?
ao subir a ladeira...

                                        - E agora! Eu não dizia
que o ladrão do defunto ia deixando a calça,
só por ter pertencido ao Padre Zé Maria?!...
E raspou-se o danado!

                                 - Agora demos fé:
Como estava a dormir, vejam só que tratante!
Decerto, foi correndo atras do arrastapé,
de pagode qualquer! Onde está nesse instante?
- Lá no meio da estrada. Ele vem encostado
num negócio esquisito: uma tora qualquer.

- Há de ser um jacá, onde estava amarrado,
coitadinho. E eu aqui, mau juízo a fazer:
Disseram cada coisa, acerca do finado!
Que ele era feiticeiro, amansador de gente
brava, que sei lá eu!

                                         - Como tinham pintado
o infeliz!Mesmo agora, oh! que sorete inclemente!
O morto vinha vindo em cima do jacá;
ao subir a ladeira, ele, degringolando,
deslizou e deixando a calça (pois, quem há
de negar) enguiçada em qualquer felpa, quando,
nem dando pela falta, os demais viajantes,
prosseguiram a jornada, em tempo tão chuvoso...
...................................................................................
E foi assim que ali, àqueles circunstantes,
foi dado esclarecer um caso tenebroso:
Tinha o pobre defunto apenas deslizado,
pela mesa do carro, e em que noite, coitado!
***