Rainer Maria Rilke
A PANTERA
Nota: este poema foi comentado no Facebook em 30/10/2015 por Antonio Carlos Viana.
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"A pantera" é um dos mais belos poemas da literatura ocidental. Não estou exagerando. Rilke é Rilke, aqui traduzido por dois dos nossos maiores tradutores. Cabe ao leitor escolher com qual tradução fica. Um dia falarei sobre essa dificílima arte que é traduzir.
A PANTERA
Rainer Maria Rilke
(Trad. José Paulo Paes)
(No Jardin des Plantes, Paris)
Seu olhar, de tanto percorrer as grades,
está fatigado, já nada retém.
É como se existisse uma infinidade
de grades e mundo nenhum mais além.
O seu passo elástico e macio, dentro
do círculo menor, a cada volta urde
como que uma dança de força: no centro
delas, uma vontade maior se aturde.
Certas vezes, a cortina das pupilas
ergue-se em silêncio. – Uma imagem então
penetra, a calma dos membros tensos trilha –
e se apaga quando chega ao coração.
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A PANTERA
No Jardin des Plantes, Paris
De tanto olhar as grades seu olhar
esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na terra:
grades, apenas grades para olhar.
A onda andante e flexível do seu vulto
em círculos concêntricos decresce,
dança de força em torno a um ponto oculto
no qual um grande impulso se arrefece.
De vez em quando o fecho da pupila
se abre em silêncio. Uma imagem, então,
na tensa paz dos músculos se instila
para morrer no coração.
Rainer Maria Rilke (tradução de Augusto de Campos)
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